Entrevista: Fohatt
Por João Messias Jr.
Imagens: Tersis Zonato
Capa: Divulgação
Resenhar álbuns é bacana, mas as entrevistas é que elucidam de vez a análise que temos dos álbuns. Pois são nelas que os entrevistados citam detalhes que muitas vezes passam batidos aos nossos olhos e mente. Como nessa entrevista feita com Gustavo Grando, vocalista do Fohatt, que em 2024 lançou "Reflections of Emptiness", um trabalho que bebe na fonte do gothic/doom praticado nos anos 2000. Só que a música não fica só na nostalgia e isso o leitor sacará nas linhas abaixo nesse bate papo:
Ouvir "Reflections of Emptiness" é um turbilhão de surpresas, das quais tentarei enumerar nessa entrevista. A primeira delas é a sonoridade, que resgata aquele "Beauty And The Beast" dos anos 2000. Essa sonoridade foi algo pensado?
Fohatt: Ela foi aparecendo de forma muito orgânica, desde quando iniciamos as composições e isso foi nos empolgando muito. O contraste entre vocais femininos etéreos e vocais guturais mais densos sempre nos atraiu. É um recurso emocionalmente poderoso e que casa bem com a proposta melancólica e introspectiva do álbum. Não buscamos soar como nenhuma banda específica, mas é inevitável que algumas influências daquela época estejam presentes, pois moldaram o nosso gosto musical.
O mais legal disso é que em momento algum soa datado e que pode sim, agregar fãs daquele período e novos fãs.
Fohatt: Agradecemos muito por essa observação. Tentamos justamente manter a essência daquele clima melancólico, mas com uma abordagem moderna na produção, nas texturas e nos arranjos. Queremos conversar tanto com quem viveu aquela fase quanto com quem está descobrindo esse tipo de som agora. A atemporalidade é um ideal que buscamos.
Mergulhando no trabalho, o que chama a atenção além da singularidade do álbum, é que vocês cometeram uma pequena ousadia: fazer essa vertente musical em português, como ouvimos em “Ecos do Passado”. Cantar no nosso idioma foi algo planejado?
Fohatt: Sim. Desde o início, queríamos experimentar com letras em português, mesmo sabendo que seria um desafio dentro do estilo doom metal. “Ecos do Passado” foi a primeira a nascer assim, de maneira muito espontânea, e sentimos que funcionou bem. O idioma transmite uma força poética única e, ao mesmo tempo, uma proximidade com o público brasileiro que é valiosa para nós.
Bestial Estigma é outro exemplo. Além da naturalidade do nosso idioma na canção, ela consegue ser contemporânea, sendo bem "rock" em muitos momentos. Foi proposital?
Fohatt: Com certeza. “Bestial Estigma” nasceu com essa pegada mais direta, um pouco mais ríspida, mas ainda dentro do nosso universo. Queríamos algo que soasse cru, quase como uma ruptura no fluxo do álbum. O uso do português contribuiu para essa sensação de proximidade e impacto.
Vocês lançaram nos formatos digital, CD e recentemente em LP. Qual a preocupação da banda em agregar tanto o pessoal que ouve no celular quanto os colecionadores?
Fohatt: Acreditamos que a música deve estar acessível em todas as frentes. O digital é imprescindível hoje para alcançar novos públicos, mas o físico, principalmente o vinil, oferece uma experiência sensorial, quase ritualística, que combina com nossa proposta. Pensamos em quem escuta no ônibus com fones e também em quem coloca o disco na vitrola e mergulha no encarte.
Vocês estão contando com parcerias para a propagação e divulgação do álbum, como os selos Metal Army e Eternal Hatred. Qual a importância dessas parceiras para a promoção do disco?
Fohatt: Essas parcerias foram fundamentais. Tanto a Metal Army quanto a Eternal Hatred acreditaram no álbum e nos ajudaram a fazer com que ele chegasse a pessoas que, talvez, não o encontrassem apenas nas redes. Além disso, há um valor simbólico em fazer parte de um catálogo de selos que têm história no underground.
E os shows? Quais os planos da banda para essa parte da promoção do álbum?
Fohatt: Alguns de nós estamos morando em estados diferentes em muito distantes devido aos trabalhos profissionais. Então tocar ao vivo é algo que está em segundo plano. Mas estamos focados nas novas composições.
Vocês são uma banda que trabalham rápido. Após "Reflections of Emptiness", gravaram um cover do Saturnus para um tributo. Quais as expectativas para esse trabalho?
Fohatt: Foi uma honra enorme participar do tributo ao Saturnus, uma banda que admiramos muito. Escolhemos “A Poem (Written in Moonlight)” por seu lirismo e profundidade emocional, que se alinham com a nossa proposta. A recepção tem sido excelente e isso nos motiva ainda mais para os próximos passos.
Muito obrigado pela entrevista. O espaço é de vocês.
Fohatt: Agradecemos o espaço João e pelas perguntas tão profundas, e te parabenizamos por todo trabalho que tem feito em prol do underground, admiramos muito....“Reflections of Emptiness” é mais do que um álbum, é uma jornada emocional e espiritual que queremos compartilhar com quem sente essa mesma inquietação. Esperamos que quem nos escute se conecte de alguma forma com as sombras, os silêncios e os lampejos de luz que colocamos em cada faixa. Muito obrigado a todos!!!!!
Link da entrevista no YouTube:
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